Por que a cultura do vinho é tão elitizada no Brasil?

A introdução da cultura do vinho fino para o consumidor brasileiro se deu de forma elitizada, complicando as formas de apreciar a bebida. Harmonizações com pratos finos e rebuscados e a descrição detalhada e poética de aromas são alguns exemplos de como consumir vinho se tornou um “status”.

     Assim, o vinho e o espumante são servidos nas grandes mansões nas novelas, representando fartura e riqueza. Importado, é claro, pois é mais elegante beber este do que o nacional. Ainda, nos restaurantes, o vinho é vendido a preço de ouro, pois quem quer ter esse “status” de consumidor de bom vinho deve poder pagar.



 E dessa forma se tornou bonito saber nomes de uvas, safras, regiões ou qualquer conhecimento relacionado ao vinho, até mesmo girar a taça, como se algo tornasse melhor e diferenciasse quem entende de vinhos, mesmo que necessite pagar caro para ter esse "status".

Alguns aspectos não ficam claro dentro desse contexto. Onde fica a preferência do consumidor? Nos julgamentos dos críticos? Na harmonização que direciona um vinho para o prato e não para o gosto do consumidor? Até onde vai a noção de qualidade do vinho, esta não depende da percepção de cada um, da experiência, da expectativa? Existe um vinho ideal?

É claro que defeitos em vinhos podem ser detectados mais facilmente por especialistas e o consumidor apesar de não saber de que defeito se trata, saberá que é um vinho ruim, ficando a cargo do profissional explicar os motivos. É claro que uma descrição visa ser imparcial, descrevendo as características do vinho e deixando a critério de cada um, saber se tais características o agradam.

Entretanto, o dia em que o vinho for tratado como algo mais fácil, mais corriqueiro no Brasil, como já é em outros países, o dia em que beber vinho for apenas um prazer, sem necessidade de tanto requinte e especialização, quem sabe poderemos entrar em um bar qualquer e pedir uma taça de vinho fino para apreciar sem se preocupar com nada, apenas saborear o momento. 

     Com certeza desta forma será mais fácil introduzir a cultura do vinho no país. Desta forma, o consumidor leigo que acha que vinho é apenas para ricos e entendidos, poderá também sentir o prazer de degustar um bom vinho, o vinho que ele gostar.